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RE BORDOSA




RÊ BORDOSA


A mistura de drogas, sexo livre e noites mal-dormidas a tornou símbolo dos "porraloucas". Suas contradições, ânsias, conflitos internos e filosofias etílicas, mais que motivos para reflexão, eram pura picardia.

Curiosamente, sua morte não se deu por conta de uma dose a mais de suas preferidas (e devastadoras) misturas químicas. O criador da personagem, o paulistano Angeli, a "matou" no auge da fama, no especial A Morte da Rê Bordosa, um clássico do underground brasileiro.

Passaram-se 14 anos desde sua morte, um falecimento acompanhado por milhares de fãs com um imenso pesar. E de nada adiantaria chorar pelo álcool derramado. Ela havia partido. Em 2001, mais de uma década depois daquele fim anunciado, testemunhas juram de pés juntos que a entidade permanece viva em alguns bares sujos do submundo das metrópoles. Há até quem diga ter cruzado com ela em um banheiro pichado da cidade de São Paulo. Os boatos, porém, não são de todo infundados. Rê Bordosa ainda vive, mas suas histórias agora pertencem a uma perturbada caixa de memórias, um reduto que não guarda presente ou futuro, somente ébrias lembranças e uma garrafa vazia de vodca.

“Tem dias que é melhor a gente não ver nossa cara no espelho, e nem a de quem dormiu com a gente”. Essa é uma das máximas que a personagem mais famosa do cartunista Angeli fala no livro recém-lançado Rê Bordosa – Vida e Obra de uma Porraloca, uma edição especial que coleta tiras e outras histórias da diva underground dos anos 80. A publicação, com o selo da editora Devir, é apenas a primeira de uma série de três outras que resgatarão o melhor e o pior da personagem. As duas seguintes são: Rê Bordosa – A Morte de uma Porraloca, e Rê Bordosa – Memórias de uma Porraloca.

Vida e Obra coleta algumas das melhores tiras de Rê Bordosa, incluindo aquelas protagonizadas com sua mãe e seu pai (sim, ela tinha família). Resgata também duas páginas de uma edição especial da também falecida revista Chiclete com Banana, em que é publicada a primeira entrevista com a famosa personagem. Basta dizer que, assim como tudo na vida de Rê Bordosa, a conversa terminou em sua banheira, com jornalista e tudo dentro (ops!). Vale ressaltar que a maior parte das histórias foi colorida para esta edição e que, assim como nas demais edições de Angeli publicadas pela coleção Sobras Completas (da Devir), a personagem título é desenhada em rascunhos e estudos que valem até ser ampliados e colocados na parede (do banheiro, claro). INSETICIDA – Foram apenas quatro anos de vida, a maior parte deles dedicados ao universo do ‘sexo, drogas e rock’n’roll’. Raros foram os momentos de lucidez e quando eles existiam, serviam apenas para reflexão de uma boa ressaca moral (poucas vezes ressacas físicas, pois, afinal, Rê Bordosa era veterana no ramo). Seu divã era uma suja banheira, seu ambiente de trabalho era qualquer lugar com um homem por perto e, embora se relacionasse com vários tipos deles (e delas, em momentos de completa embriaguez), seu círculo social se resumia ao atendente por trás do balcão do bar. Era ele, fosse quem fosse, que ouvia, ou fingia ouvir, as desventuras de Rê Bordosa.

Do outro lado do papel, os leitores liam com atenção e, na maior parte das ocasiões, riam daquele retrato que muitas vezes refletia eles mesmos. Em 84, quando foi publicada a primeira tira da personagem, a Aids ainda não era problema nas relações sexuais e as pessoas se entregavam aos entorpecentes de uma maneira mais para ‘Cristiane F.’ dos anos 80 do que a ‘paz e amor’ dos 70. Rê Bordosa foi filha legítima dessa geração. Possivelmente, não sobreviveria ao complexo de culpa dos anos 90 e à atitude politicamente correta do fim de século.

O próprio Angeli, criador e tutor de Rê Bordosa, se apercebeu disso a tempo e, justamente no momento de maior fama da personagem, anunciou sua morte. Para o cartunista, foi um oportunidade de investir em outros projetos pois, como ele mesmo afirmou, Rê Bordosa estava tomando rumos de estrela, de uma popularidade tão grande que inevitavelmente o transformaria em autor de uma obra só.

Mesmo assim, a relação da ‘porraloca’ com os homens, a bebida e o mundo de uma forma geral ainda faz bastante sentido nos dias atuais de sexo (popozudas), drogas (McDonald’s) e rock’n’roll (painel de votação do Senado). Suas frases e pensamentos são tão atemporais quanto o traço de seu tutor, Angeli. É como ela disse certa vez, sentada em frente ao balcão de um bar qualquer: “Rê Bordosa, você não passa de uma barata, daquelas que não há inseticida que mate!”.

FONTES: UNIVERSO HQ

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